Práticas do real, auto ficção, escrita performática, teatro documental, autobiografias, teatro performativo, perfopalestra, autoescrituras performativas... São muitas as práticas na cena contemporânea em que a memória tem sido explorada como matéria da criação. Nestes processos, os limites entre realidade e ficção, representação e performatividade, processo e obra, são explorados em diversos sentidos, seja em um movimento espiralar para compreender o passado ou mesmo pela necessidade de reescrever a história a partir de vozes antes silenciadas. Um trânsito entre espaços temporais e geográficos que atravessam diferentes linguagens artísticas.
topografia – residências e performances da memória é um projeto de formação no qual o artista proponente, Daniel Olivetto, busca dar continuidade às suas inquietações sobre a memória como matéria de criação em zonas entre o teatro e outras linguagens.
Em 2019, Olivetto criou o projeto “Ações para Reexistir – Pesquisa e Criação Interdisciplinar”, no qual contou com a interlocução de artistas do teatro, da dança, da performance, do audiovisual, da música e das artes visuais.
Uma das ações de conclusão do projeto foi a palestra-performance intitulada “Topografia”, na qual o artista compartilhou parte do processo desenvolvido entre 2019 e 2021, criando uma narrativa que entre o depoimento sobre a pesquisa e uma escrita pessoal sobre infâncias dissidentes, censuras e outras violências. Em um espaço em branco, objetos, documentos, livros, cartas, brinquedos, canções, textos teóricos e poéticos, fotos e outros dispositivos de memória eram mapeados em diferentes configurações para construir escritas no momento presente, uma estrutura com um roteiro aberto aos acidentes do agora e à interação do público.
A palestra-performance acabou por dar origem a um procedimento de escrita no qual o artista explora diferentes narrativas e possíveis desenhos da memória. Topografar é uma destas formas de desenho, de escuta e de olhar.
topografia, do ponto de vista geográfico, é a ciência que estuda a disposição dos corpos no espaço, inclusive considerando corpos astronômicos, tais como planetas, asteroides e outros. No campo da medicina, por sua vez, avaliar o corpo humano de forma topográfica diz respeito ao estudo anatômico por regiões específicas, ao contrário da avaliação sistêmica, que aborda o funcionamento do corpo pela ligação entre diferentes regiões, tais como o sistema respiratório, neurológico e outros. Do ponto de vista da engenharia civil, a topografia diz respeito ao estudo dos territórios, seus relevos, profundidades e rupturas.
Tal qual um topógrafo, o especialista que na construção civil mapeia as superfícies de um terreno, acredito que em nosso trabalho como artistas e pesquisadores desenhamos em diferentes espaços as linhas, relevos, rupturas, fendas e outros acidentes geográficos que caracterizam um território/memória (OLIVETTO, 2023, P. 33)
topografia – residências e performances da memória é um projeto no qual o Olivetto busca uma continuidade dessas provocações em relação com outros artistas que dialoguem com o tema, fomentando espaços de diálogo e criação com artistas de diferentes linguagens.